Vivemos em busca de preencher os pequenos vazios de nossas vidas. Buscando conhecimento quando nos falta virtude ou amores para transcender  nossas carências. Nos afundamos em pequenos vícios para usá-los como curativos para feridas que nunca se cicatrizam. Pequenos atos cometidos para aliviar sentimentos contidos e não deixar que nos sucumbamos ao cansaço. 
É o meu velho hábito de roer unhas ou aquela série que comecei a assistir semana passada. Meu livro de cabeceira e aquele pedaço de chocolate que escondo na porta da geladeira, dentro de um pote de margarina, para o caso de uma crise existencial. Tenho também  um pequeno diário que guardo no fundo do meu guarda-roupas, competindo pelo espaço entre as calças Jeans com um maço de cigarros. Nele eu escrevo o medo que tenho de enfrentar a realidade e o meu receio de tornar meus desejos reais. Rabiscando palavras vãs, me agarrando a elas como se fossem os últimos destroços boiando após um naufrágio.
Enquanto escrevo, bebo um café ou dois, fumo um cigarro ou dois, enquanto se passa uma hora ou duas. 
No fim leio a minha obra com a exata sensação de um artista  admirando seu quadro ou de um ator assistindo a si mesmo. É aquela sensação que todos temos ao olhar nosso reflexo especular por um tempo demasiadamente longo. A sensação que a sua alma deixa de lhe pertencer e que a vida é quase irreal. Nesse momento nos questionamos sobre quem somos e um aperto invade o peito, talvez por não sabermos a resposta ou pela vergonha de estarmos sendo ridículos. 
Estou preenchendo meus vazios com palavras e alimentando as minhas palavras de vazios.

FAXINA

      Me ausentei demais.
     Como qualquer um que passa um grande tempo fora de casa tive que voltar organizando as coisas.     Sacudi a poeira das cortinas e as abri para que o sol pudesse entrar e com ele viesse a brisa morna de fim de tarde tomando o lugar do cheiro de mofo. 
    Passei um bom tempo sentada nesse cômodo pensando no que me serve ainda e nas coisas novas que tenho que adquirir. Não joguei fora o que no momento me parece velho ou sem utilidade, pelo contrário. Resolvi guardar.
    Coloquei em um armário do canto os amores poídos, os valores quebrados, as paixões descoradas, os sentimentos enferrujados e as ideologias vazias.
   No fundo das gavetas desse mesmo armário guardei as cartas que nunca escrevi e as páginas arrancadas de um diário que nunca pude viver. Em um fundo falso coloquei o roteiro das viagens que nunca fiz, os cardápios que citam as comidas que nunca tive o prazer de saborear, os abraços que nunca dei e os beijos que nunca recebi.
    Nos cabides coloquei as personalidades que vesti e não me couberam bem, as capas em que me escondi e os casacos que nunca puderam cobrir a frieza que me consumia. Preguei por dentro das portas todas as máscaras que usei, para que quando eu abra esse armário me lembre de tantas "eus" que tentei fingir ser. 
   Os sapatos de salto desconfortáveis e os tênis apertados que sempre camuflaram as pegadas que tentei imprimir por certos lugares que andei, eu deixei no assoalho cobertos pelos lençóis que nunca usei por ter medo que se manchassem apenas pelo fato de serem demasiadamente bonitos e igualmente caros.
   Atrás do armário coloquei as minhas falsificações de Monet, tão verdadeiras quanto a felicidade que sempre tentei imprimir no meu sorriso forçado.
   Está tudo aqui para quando eu precisar novamente. 
   Agora quero estar assim:
   Eu mesma e um cômodo vazio, pronto para ser redecorado.

Poema sem título

Possivelmente nós, o universo, sejamos apenas.
Apenas nada.
Nada a pena.
Valerá nada.
Nada vale.
Apenas.
Nada.
Nada valerá a pena.
Somos nada.
Somos penas.
Quem dera eu poder quebrar a linha desse tempo.
Criar uma nova realidade.
Em que tudo valha.
Que tudo tenha.
Que pena.
Que tudo seja.
Tudo valerá.
A pena valerá.
Em quanto isso escuto o rappa
para ver o tempo passar.
Pescando ilusões onde não se tem mar.

Oi gente,
Já fiz vários pedidos de desculpa por sumiço e não queria explicar os meus motivos dessa vez. Na verdade eu estou em um momento incógnito da minha vida em que eu não consigo definir verdadeiramente quem eu sou. estou enfrentando um processo de mudanças e
 precisei dar um tempo no blog.
 
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